Empresa fará 1ª linha de transmissão de energia dos EUA para evitar apagões

Empresa fará 1ª linha de transmissão de energia dos EUA para evitar apagões

O executivo do setor de energia limpa Cary Kottler foi um dos milhões de afetados pela tempestade de inverno Uri, que atingiu o Texas com uma onda de frio histórica em 2021.

A temperatura dentro de sua casa ficou pouco acima de zero e o peixe dourado da família congelou no aquário. Kottler sobreviveu à tempestade, mas mais de 200 texanos morreram durante o raro surto de frio, que deixou milhões sem energia por dias.

Agora, a empresa de Kottler, a Pattern Energy, está prestes a construir a primeira grande linha de transmissão que conectará o Texas à rede elétrica do leste dos Estados Unidos — algo que teria ajudado a levar eletricidade salvadora ao estado durante aquela tempestade.

“Quando algo como a tempestade Uri acontece, você poderia trazer energia do sudeste, e há muita energia lá que poderia ser exportada para o Texas”, disse Kottler à CNN.

Essa linha de transmissão é apenas um exemplo do que autoridades e especialistas em energia dos EUA dizem que o país precisa com urgência: linhas elétricas altas e de alta voltagem, capazes de transportar grandes quantidades de energia de um lugar para outro.

Essa capacidade de transferir eletricidade entre regiões é cada vez mais importante, à medida que a rede elétrica dos EUA é atingida por eventos climáticos extremos com frequência crescente. A rede já foi afetada várias vezes por fortes tempestades este ano. Somadas, os furacões Helene e Milton deixaram quase 11 milhões de consumidores sem energia no sudeste do país, e milhares ainda estão no escuro.

“Você precisa que sua rede elétrica seja maior do que a condição climática”, afirmou a ex-comissária da Comissão Federal de Regulação de Energia, Allison Clements. “Quando frentes frias extremas cruzam o país ou um domo de calor fica estacionado em uma área, e há mais demanda por energia do que o esperado, é necessário trazer eletricidade de lugares que não estão enfrentando aquele clima.”

Transformar canudos em canos largos

Com o país enfrentando condições climáticas cada vez mais extremas, autoridades e especialistas pedem que concessionárias e legisladores ampliem significativamente a rede elétrica para manter o fornecimento de energia.

Mas o clima não é o único motivo para essa expansão. A demanda por eletricidade está crescendo rapidamente, impulsionada principalmente por centros de dados e pela inteligência artificial, ambos com alto consumo energético. Além disso, há uma enorme quantidade de energia limpa — como solar e eólica — esperando para ser conectada à rede, o que supera toda a energia atualmente em operação.

Em resumo, a rede elétrica dos EUA está obsoleta e cheia de remendos, segundo Clements.

“Temos um sistema de transmissão interestadual com mais de 60, 70 anos”, disse ela. “É como se usássemos uma rede VHS em uma economia que funciona no Hulu.”

Na prática, a rede elétrica americana é composta por três redes principais: as interconexões leste e oeste, além da rede independente do Texas. Dentro delas, há um mosaico de cerca de uma dúzia de sistemas regionais menores. As linhas físicas que conectam essas redes são frágeis e ultrapassadas, de acordo com especialistas ouvidos pela CNN.

“Entre essas três grandes redes, temos basicamente um canudo conectando piscinas olímpicas”, explicou Rob Gramlich, CEO da consultoria Grid Strategies. “Se conseguíssemos transformar esses canudos em canos largos… todos poderiam ter eletricidade.”

A rede do futuro precisará ser de duas a três vezes maior que a atual — e conectar melhor as regiões, estimam autoridades do Departamento de Energia. Ela também deve ser mais resistente ao clima extremo.

“A maioria das quedas de energia ocorre por problemas de distribuição, danos físicos em fios menores, como galhos tocando os cabos, colisões de veículos, ventos fortes, contato com animais”, disse Ariel Horowitz, diretor-adjunto de modernização da rede elétrica do Departamento de Energia.

No caso de incêndios florestais, furacões, tornados e tempestades intensas, ele afirmou que a indústria de energia demonstra “grande interesse” em reforçar sua infraestrutura elétrica. O governo Biden anunciou na sexta-feira um investimento de US$ 4,2 bilhões (cerca de R$ 24 bilhões) em projetos de resiliência da rede elétrica. A secretária de Energia, Jennifer Granholm, destacou que houve uma enxurrada de propostas, muitas das quais não serão contempladas.

Reforçar a rede pode incluir a substituição de postes de madeira por estruturas de aço inoxidável ou concreto, o enterramento de cabos ou a elevação deles para evitar contato com árvores. Também pode envolver tornar as linhas elétricas mais responsivas e adaptáveis, para que concessionárias possam redirecionar o fornecimento durante tempestades.

Clements alerta que, mesmo com uma rede maior, não será possível resolver todos os desafios trazidos pelas mudanças climáticas. No caso do furacão Helene, “muitos transformadores ficaram submersos, subestações inteiras ficaram debaixo d’água”, contou.

Parte do financiamento federal será destinada a elevar essas subestações nas áreas costeiras, acima do nível de inundação.

Mas, ela acrescenta, em estados como Califórnia e Texas — cujas redes enfrentam ondas de calor cada vez mais severas no verão — “não há exemplo em que os investimentos não tenham tornado a rede mais resiliente ao clima extremo.”

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Fonte: CNN Brasil

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